Tema

                À primeira vista, o tema da III SAEL, Construir o Novo no Ensino de Línguas, parece a repetição de um clichê já recorrente no curso de Licenciatura em Letras: o de que é preciso opor a práticas ultrapassadas de ensino de língua um certo conjunto de práticas novas que vem sendo desenvolvidas no interior da universidade. No entanto, essa afirmação só pode se tornar um clichê quando se tem clareza de que caminho novo é esse que se quer seguir. Não é difícil perceber que não é o nosso caso. Vivemos na Letras um amontoado de novos que surgem de todos os lugares, contradizendo práticas e conhecimentos antigos, mas, às vezes ao mesmo tempo, também com profundos vínculos com eles, uma vez que o novo não se constrói sem diálogo com o já estabelecido, daí o movimento contínuo que se estabelece gradualmente. A síntese desse cenário é desafiadora, cada vez mais difícil de dar conta. Quando não é o mercado de trabalho que nos devora com sua insaciável fome de resultados, o debate construtivo sobre esse novo é atrofiado por nossas próprias limitações curriculares, estruturais ou da própria qualidade do ensino. Daí a necessidade de rediscutir sempre essa novidade: para decisivamente derrubar práticas contraproducentes, que nos levam ou ao tecnicismo aprisionador de consciências ou ao fracasso puro e simples.

 

                O novo que queremos construir não reside simplesmente em alguma idealização do processo de ensino-aprendizagem ou da função do ensino de linguagem, nem na propagandeada introdução de tecnologias nas escolas, nem na obtenção imediata de resultados de aprovação em concursos e vestibulares. O novo que a III SAEL discutirá se encontra na confluência de saberes teóricos acadêmicos tradicionais e recentes, que conduzam à clareza acerca dos conteúdos ensinados, de saberes políticos, que problematizem a realidade no sentido da intervenção nela, e saberes culturais e artísticos que promovam o exercício do olhar diferenciado pelas diferentes formas humanas de representação pela linguagem. Além disso, não pretendemos que o novo emerja da academia para a educação básica numa via de mão única, mas que as práticas concretas dos professores e professoras que estão na linha de frente da formação de jovens também podem nos dar subsídios valiosos para nossa reflexão. Por fim, como antecipa o título da temática, o novo não se estabelece decisivamente, mas é continuamente construído pelos encontros e descobertas que ocorrem ao longo de toda uma história ou uma vida. A III SAEL, assim, quer ser um evento que faça a diferença nessa construção. Por isso, tanto a programação preparada pela organização quanto todos os estudantes que virão construir o evento conosco apresentando suas produções serão mobilizados a contribuir para a temática, relacionando suas exposições com ela. Como síntese de tudo isso, a III SAEL traz a ideia da diferença, que se destaca de uma corrente uniforme, como marca principal do evento, representado na arte que estampa os cartazes, camisas e divulgações, e conduzirá os quatro dias de SAEL na construção do novo no ensino de línguas.